Apologética Católica

Resumo das principais doutrinas protestantes e sua refutação


O protestantismo representa hoje uma realidade assaz complexa, ou seja, o bloco de aproximadamente 200.000.000 de cristãos que não pertencem nem à Igreja tradicional, cujo Chefe visível reside em Roma, nem à facção oriental (em parte dita ortodoxa, em parte nestoriana, monofisita; cf. «P. R.» 10/1958, qu. 10), facção que se separou do tronco primordial em etapas sucessivas desde o séc. V até o séc. XI.

O iniciador do movimento protestante é Martinho Lutero, que, a partir de 1517, pretendeu reformar o credo e as instituições cristãs, e por isto se afastou da Igreja, dando início ao Luteranismo. Ao lado deste, enumeram-se o Calvinismo (que absorveu o Zwinglianismo ou a reforma de Zwingli em Zürich, Suíça), movimento afim ao de Lutero, empreendido por Calvino em Genebra, Suíça, e o Anglicanismo, reforma congênere oriunda na Inglaterra. Estas três denominações (Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo) representam o que se pode chamar «Igrejas protestantes tradicionais», todas iniciadas no séc. XVI (os Anglicanos nem sempre aceitam a designação de «protestantes», embora, por seus princípios doutrinários, se filiem ao protestantismo).

Das três Igrejas protestantes derivaram-se centenas de sociedades menores, que não mais recebem o nome de Igrejas no sentido absoluto, mas o de seitas, visto serem movidas por espírito diverso do das Igrejas; são reformas da reforma, dissidências da dissidência: metodistas, batistas, congregacionais, quakers, etc. (sobre a distinção entre a Igreja e seita, veja «P. R.» 6/1957, qu. 8). Para maior entendimento sobre o por quê da classificação de Seita e não igreja, leia o artigo postado aqui.

Esses múltiplos grupos protestantes autônomos professam credos diferentes, chegando alguns a negar a própria Divindade de Cristo; o liberalismo doutrinário predomina entre eles. Contudo podem-se enunciar três grandes teses como características dos diversos tipos de Protestantismo:

1) a justificação pela fé sem as obras; 2) a Bíblia como única fonte de fé, interpretada segundo o «livre exame»; 3) a negação de intermediários entre Deus e o crente.

1. Três pontos capitais

a) A justificação pela fé sem as obras

Lutero considerava esta tese como central dentro da sua ideologia: «artigo do qual nada se poderá subtrair, ainda que o céu e a terra venham a desmoronar» (Artigos de Schmakalde, 1537).

Qual o significado de tal proposição e donde lhe vem a sua importância no protestantismo?

A resposta não é difícil; deriva-se da situação psicológica em que o reformador se achou em certa fase de sua vida. Lutero fez-se frade agostiniano, mas movido pelo medo (tendo escapado à fulminação por um raio, prometeu entrar no convento) do que por autêntica vocação. No claustro, experimentou a concupiscência, à qual opôs penitência e ascese. Sentindo, porém, continuamente as más tendências em sua natureza, entrou em angustiosa crise: queria libertar-se da concupiscência, mas não o conseguia… Um belo dia julgou ter encontrado a solução: apelando para São Paulo (principalmente para a epístola aos Romanos), começou a ensinar que a concupiscência é realmente invencível; por conseguinte, vão é procurar dominá-la mediante penitência e boas obras. Nem Deus requer isto do homem; basta aceitar a Cristo como Salvador, isto é, crer com confiança que Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não leva em conta os pecados do indivíduo; a fé confiante («fiducial»), independentemente de boas obras, faz que Deus nos recubra com o manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos. Tal declaração é meramente legal ou extrínseca, não afeta o interior da natureza humana; esta, mesmo depois de «justificada», nada pode fazer para obter a salvação eterna, pois se acha como que aniquilada pelo pecado, reduzida à categoria de instrumento inerte nas mãos de Deus ou de serra nas mãos do carpinteiro (assim se formula a famosa tese do «servo arbítrio» de Lutero).

– Observação importante: A Igreja Católica ensina que somos justificados pela fé e que não podemos obter a salvação por meio das boas obras ou qualquer outro esforço próprio. Contudo, ensina também que as boas obras são eficazes na santificação do crente, à sua justificação (que é significa o ato de tornar-se justo), bem como na expiação dos castigos temporais dos pecados já perdoados. Ou seja, embora tenhamos recebido o perdão por nossos pecados pelo Sacrifício Salvífico de Cristo, tendo assim o castigo eterno removido, as consequências temporais de nossos pecados permanecem. Assim, movidos pela fé e pelo desejo de agradar a Deus, praticamos boas obras para fazer reparação por nossos pecados e diminuir ou eliminar  suas consequências temporais. As boas obras são ainda um meio de cumprir ao mandamento de amar ao próximo. Leia mais sobre o tema AQUI e AQUI

Neste quadro de idéias, vê-se que não se pode falar de cooperação do homem com a graça de Deus, nem de méritos. Lutero e Calvino reconheciam que a caridade nasce da fé, como a maçã provém da macieira, mas (acrescentavam) não são a caridade e suas obras que importam (ou ao menos… que importam em primeiro lugar); o crente pode estar certo da salvação eterna em qualquer fase da sua vida, desde que mantenha a sua fé confiante. Donde o famoso adágio de Lutero «Pecco fortiter, sed fortius credo. — Peco intensamente, mas ainda mais intensamente creio» (carta a Melancton, 1º de agosto de 1521); com estas palavras, o reformador não recomendava o pecado, mas queria dizer que a simples confiança no Salvador ainda tem mais peso no processo de salvação do que a culpa do homem. Calvino, do qual muito se inspiraram os presbiterianos e batistas, acentuou ao extremo estas idéias, afirmando que Deus predestina infalivelmente para a salvação eterna, de sorte que, se o homem não perde a sua fé, pode ter certeza de que chegará à bem-aventurança celeste (donde se deriva para o crente suavíssimo reconforto).

b) A Bíblia, única fonte de fé, sujeita ao «livre exame»

A fim de dar fundamento à inovadora tese da justificação pela fé fiducial, os reformadores precisavam de fazer uma revisão nas fontes da Revelação cristã. Estas são a Escritura Sagrada e a Tradição oral apregoada pelo magistério da Igreja. Resolveram, pois, rejeitar a Tradição ou o magistério, para só dar crédito à Palavra escrita ou à Bíblia. Esta, para o protestante, tudo contém: é, por si mesma, clara em tudo que concerne a salvação eterna.

Calvino se exprime a respeito em termos muito fortes:

«Quanto à objeção que os católicos nos fazem, perguntando-nos de quem, donde e como temos a convicção de que a Escritura provém de Deus, é semelhante à questão de quem quisesse saber como aprendemos a distinguir a luz das trevas, o branco do negro, o doce do amargo. A Escritura, com efeito, tem seu modo de se manifestar, modo tão notório e seguro que se compara à maneira como as coisas brancas e negras manifestam sua cor e as coisas doces e amargas manifestam o seu sabor» (Institution chrétienne I 7 & 3).

Para ajudar a pessoa a ler e entender a Bíblia, o Espírito Santo dá seu testemunho interior, iluminando a mente e dirigindo o coração. Em consequência, cada crente tem o direito de «deduzir» da Bíblia as verdades que ele, em seu bom senso, julgue haverem sido a ele ensinadas pelo Espírito Santo.

Assim o Protestantismo atribui ao individuo uma prerrogativa que ele nega à Igreja visível e hierárquica: esta pode errar no seu ensinamento, corrompendo o depósito da fé (apesar das promessas de Cristo, seu Fundador); toca, por conseguinte, a cada cristão, guiado pelo Espírito Santo, encontrar de novo a Palavra de Deus perdida pela Igreja…

A reação do crente protestante contra o magistério eclesiástico é, aliás, típica expressão da mentalidade da Renascença: no séc. XVI o homem criou, sim, uma consciência nova dentro de si, tendente a pôr em cheque qualquer tipo de autoridade, para mais exaltar o individuo. «O que rejeito absolutamente é a autoridade», escrevia Alexandre Vinet (1797-1847), chefe do movimento dito «da Igreja Livre» na Suíça ocidental calvinista. O Evangelho, para Lutero, devia ser não somente uma escola de obrigações, mas também uma via de libertações (entre as quais, a libertação frente à autoridade religiosa visível).

c) A negação de intermediários entre Deus e o crente

O Protestantismo dá valor decisivo à atitude do individuo diante de Deus; segundo a ideologia reformada, é a fé subjetiva nos méritos de Cristo que garante a salvação. Em consequência, pouca margem aí resta para se conceberem dons de Deus que permaneçam extrínsecos ao indivíduo e a este comuniquem os méritos do Salvador. Em outros termos: não têm cabimento canais transmissores da graça, como sejam ritos e práticas a serem administrados por uma sociedade visível (a Igreja) e por uma hierarquia de ministros oficialmente instituída. Para o protestante, entre o homem justificado pela fé e Deus, não há Sacerdote senão o Senhor Jesus invisível que está nos céus (a prolongação da Encarnação através da Igreja e dos sacramentos é depreciada); também não há outro Mestre senão o Espírito Santo, que fala nas Escrituras e no íntimo de cada alma, sem se servir de algum magistério viável e objetivo.

Note-se, em particular, a repercussão destas idéias nos conceitos de sacramentos e Igreja.

O número dos sacramentos foi notavelmente diminuído pelos doutores do Protestantismo. Dentre os sete tradicionais, Calvino chegou a admitir dois apenas: o Batismo e a Ceia. Quanto à função dos sacramentos, os reformadores nos diriam que estes não são portadores da graça, mas apenas sinais que, lembrando as promessas da benevolência divina, excitam a fé (ou confiança) nessas promessas; estimulada por tais sinais, é a fé que produz a santificação do crente. Os sacramentos portanto não exercem, como se diz em linguagem teológica, causalidade nem física nem moral no processo de santificação; a sua influência fica limitada ao setor psicológico (recordam a palavra de Deus…).

No Calvinismo, torna-se mesmo impossível que a graça esteja associada a algum sinal objetivo, pois ela só é dada aos predestinados; a quem não pertença ao número destes, não adianta recorrer a algum rito sensível. Lutero, um pouco menos inovador neste ponto, afirmava que o Batismo confere a santidade, mas só o faz mediante a fé: «Não o sacramento, mas a fé no sacramento é que justifica. — Non sacramentum, sed fides in sacramento iustificat», escrevia o reformador ao Cardeal Caetano. O Zwinglianismo empalidecia ainda mais o papel dos sacramentos, reduzindo-os a meros testemunhos da fé capazes de unir os homens entre si: pelos sacramentos, ensinava Zwingli, o crente atesta e comprova à Igreja a sua fé, sem que da Igreja receba sequer o selo ou a comprovação da fé.

A prevalência do indivíduo sobre a coletividade se exprime com não menor clareza no conceito protestante de Igreja. Esta, conforme os reformadores, não é um corpo visível, mas sociedade invisível; só uma coisa impede que alguém a ela pertença: o pecado. Quem não se deixa contaminar por este, torna-se membro da Igreja, independentemente dos quadros externos nos quais os crentes professam a sua fé. Em geral, dizem os protestantes que a Igreja visível se corrompeu e extinguiu no séc. IV, sob o Imperador Constantino, dada a colaboração do Estado e da Igreja, pois então se introduziram nos mais íntimos redutos do Cristianismo doutrinas e costumes pagãos. Subsiste, porém, a Igreja invisível, a qual continua a vida da comunidade primitiva de Jerusalém. Ora seria essa Igreja invisível que vai tomando corpo nas denominações protestantes a partir do séc. XVI…

Se agora se pergunta como é governada a Igreja invisível, toca-se uma questão árdua para o Protestantismo: este, de um lado, rejeita o Papado e, de outro lado, afirma que todos os fiéis são sacerdotes. Em consequência, não restam critérios muito seguros para se constituir o governo da igreja… Donde a multiplicidade de soluções: há denominações protestantes dirigidas por seus «bispos» (tais são o episcopalismo anglicano, o metodismo…), bispos porém que são mais mentores dos .crentes do que sacerdotes ou ministros dos meios de santificação; há as também dirigidas por presbíteros (o presbiterianismo, por exemplo), e há-as dirigidas por meros delegados da coletividade ou da congregação (congregacionalismo, que reproduz o sistema democrático no setor religioso). Vários grupos protestantes não concebem mesmo dificuldade em admitir a autoridade mais ou menos absoluta dos governos civis no que diz respeito à vida temporal da Igreja (o que resulta em secularização da face visível do Cristianismo).

Expostas sumariamente as três características da ideologia protestante, incumbe-nos agora analisar o seu significado.

2. Uma estimação da doutrina

a) A justificarão pela fé sem as obras

1. Não há dúvida, a Escritura ensina que a remissão dos pecados é gratuitamente outorgada aos homens pelos méritos de Jesus Cristo (cf. Rom 5,8s); o homem não pode merecer o perdão, mas tem que o aceitar contritamente, crendo no amor de Deus e entregando-se humilde a esse amor. Contudo a Escritura ensina outrossim que o perdão outorgado por Deus não é mera fórmula jurídica em virtude da qual não nos seria mais levado em conta o pecado, pecado que, apesar de tudo, ficaria inamovível a contaminar a alma. Não; justificação, segundo as Escrituras, é regeneração (cf. Jo 3,3.5; Tit 3,5), elevação à dignidade de filhos de Deus não nominais apenas, mas reais (cf. 1Jo 3,1), de modo a nos tornarmos consortes da natureza divina (cf. 2 Pdr 1,4), capazes de produzir atos que imitem a santidade do Pai Celeste (cf. Mt 5,48). Se, por conseguinte, Deus, ao nos perdoar as faltas, nos concede uma nova natureza, está claro, conforme as Escrituras mesmas, que as obras boas que estejam ao alcance desta nova natureza, devem pertencer ao programa de santificação do cristão; elas se tornam condição indispensável para que alguém consiga a vida eterna. Deus não pode deixar de exigir tais obras depois de nos haver concedido o princípio capaz de as produzir.

É óbvio que essas obras boas não constituem o pagamento dado pelo homem em troca da graça de Deus, nem são algo que a criatura efetue independentemente dos méritos de Cristo Salvador, mas são os frutos necessários da ação de Deus (ou da graça) no homem regenerado, são concretizações dos méritos do Salvador; na verdade, é Cristo quem vive no cristão e neste exerce seu influxo vital, como a cabeça nos seus membros e como o tronco da videira nos seus ramos (cf. Gál 2,20; Jo 15,1s).

São Paulo, na epístola dos Romanos, tanto inculca a justificação pela fé sem as obras, porque tem em vista a primeira conversão ou a conversão do pecador a Deus (claro está que esta não pode ser o resultado de obras meritórias prévias). São Tiago, porém, que visa propriamente o desabrochar da vida cristã após a conversão, inculca fortemente a necessidade das boas obras (por isto a epistola de Tiago muito desagradava a Lutero, que quis negar a sua autenticidade).

Quanto à concupiscência que permanece no cristão por toda a vida, ela não constitui pecado enquanto o indivíduo não lhe dá consentimento; por muito intensa que seja, a graça do Redentor é certamente capaz de triunfar sobre ela. O fato de que a Escritura a chama «pecado» (cf. Rom 7,20), explica-se por estar a concupiscência intimamente ligada ao pecado como consequência deste.

De resto, na vida cotidiana os protestantes valorizam altamente as boas obras; falam então linguagem muito semelhante à dos católicos.

b) A Bíblia e o livre exame

Já em «P. R.» 7/1958, qu. 2 e 3 foi publicada longa explanação sobre a Tradição oral como fonte de fé e necessário critério de interpretação da Bíblia Sagrada. O valor da Tradição se explica pelo fato de que a Revelação oral antecedeu a redação das Escrituras e nem foi, por inteiro, consignada nos livros sagrados (os hagiógrafos nunca tiveram a intenção de confeccionar um manual completo dos ensinamentos revelados); donde se vê quão alheio é ao espírito mesmo da Bíblia interpretá-la independentemente da corrente de doutrinas dentro da qual a Escritura se originou, se conservou e sempre se transmitiu.

Ao que foi dito ainda se pode acrescentar a menção de algumas consequências do princípio do livre exame (é pelos frutos que se conhece a árvore!).

Os próprios reformadores e seus discípulos, desejando exaltar a autoridade das Escrituras, tornaram-se deturpadores da Palavra de Deus. Foi, sim, em nome do Antigo Testamento que Lutero permitiu a bigamia a Filipe de Hessen. É em nome das Escrituras que os fundadores de seitas vão ensinando teses fantasistas e contraditórias sobre a data do fim do mundo (tenham-se em vista os Adventistas, os Testemunhas de Jeová, os Amigos do homem, de que trata «P. R.» 14/1959, qu. 10). Em nome do livre exame da Bíblia os críticos protestantes têm rejeitado inteiras seções ou até livros escriturísticos; chegam a negar a Divindade de Cristo (o primeiro autor que negou a plena veracidade dos Evangelhos, foi o protestante H. S. Reimarus +1768).

De resto, verifica-se que as comunidades de crentes tendo abandonado a venerável Tradição transmitida desde os inícios do Cristianismo, ainda, e apesar de tudo, seguem uma tradição, … tradição evidentemente humana, a que deu início tal ou tal fundador de seita. Criou-se em cada denominação de «reformados» uma tradição particular ou uma via própria de interpretação da Bíblia.

É a rejeição de todo magistério munido da autoridade do próprio Deus que gera instabilidade nas comunidades protestantes, ocasionando a criação de novas e novas seitas. A razão destas múltiplas reformas não será o fato de que nenhuma delas é realmente guiada pelo Espírito Santo, mas todas são obra meramente humana? Aliás o próprio Lutero já verificava em seus tempos: «Há tantos credos quantas cabeças há».

Alexandre Vinet, já citado, afirmava por sua vez no século passado:

«Para mim, o Protestantismo é apenas um ponto de partida; a religião fica muito além dele… A reforma será uma exigência permanente dentro da Igreja; ainda hoje a reforma está por se fazer».

A experiência de 400 anos mostrou que se volta contra os próprios irmãos separados o principio com que estes quiseram outrora impugnar os católicos: «Mais vale obedecer a Deus do que aos homens» (At 5,29).

c) A negação de intermediários entre Deus e o crente

Esta posição acarreta, como dizíamos, a negação de várias instituições que se tornaram clássicas no Cristianismo: os sacramentos concebidos como canais da graça, a intercessão dos santos, o sacerdócio oficial e hierárquico, a visibilidade da Igreja, etc.

Alguns destes temas já foram diretamente abordados em «P.R.»: assim o significado dos santos na piedade cristã, em «P. R.» 13/1959, qu. 5; a autoridade da canonização dos santos, em «P.R.» 13/1959, qu. 5; a necessidade do culto externo, em «P.R.» 15/1959, qu. 3; a instituição de um chefe visível e de um magistério infalível dentro da Igreja, em «P.R.» 13/1959, qu. 2 e 14/1959, qu. 3.

Seguem-se três observações aptas a mais evidenciar o erro radical contido no princípio protestante:

i) a rejeição dos sacramentos e do sacerdócio hierárquico contradiz à lei geral que Deus sempre quis observar nas suas relações com o homem: assim como na plenitude dos tempos o Senhor atingiu a criatura mediante o mistério da Encarnação, assim antes e depois desta Ele veio e vem sob sinais sensíveis; principalmente no Novo Testamento a dispensação das graças conserva a estrutura da Encarnação: os sacramentos e sacramentais são matéria consagrada que prolonga e desdobra a estrutura do Verbo Encarnado. Como o corpo de Jesus recebeu outrora a vida divina e a comunicou aos homens seus contemporâneos, assim os elementos corpóreos (água, pão, vinho, óleo, palavras e gestos do homem…) vêm a ser, nos sacramentos, os canais que contêm e transmitem a graça de Deus; não os poderíamos reduzir à categoria de meros estimulantes da memória, vazios de conteúdo sobrenatural, sem quebrar a harmonia do plano da salvação.

ii) Nos desígnios de Deus, a santificação do homem sempre foi concebida comunitariamente, em oposição a qualquer individualismo. O Criador houve por bem, no inicio da história, incluir todos os homens no primeiro Adão; quis outrossim restaurar todos conjuntamente em Cristo; consequentemente santifica-nos hoje por meio de uma coletividade, que é a Igreja, caracterizada por sinais objetivos e por um ministério visível, fora do qual ninguém pode pretender encontrar o Cristo. — Exaltando o indivíduo a ponto de relegar para plano secundário a comunidade, o Protestantismo vem a ser autêntico produto da mentalidade subjetivista e antropocêntrica do Renascimento.

iii) A Reforma pretende corresponder à Igreja primitiva, anterior à corrupção que «paganizou» o Evangelho… Esta pretensão é tão vã que os mestres protestantes se têm visto obrigados a fazer recuar constantemente o período da «grande corrupção»: ao passo que os primeiros reformadores a colocavam no séc. IV, outros foram retrocedendo até os tempos de S. Cipriano (+258), S. Ireneu (+ cerca de 202), Clemente Romano (+102?) ou até a geração apostólica. O famoso crítico Harnack (+1930) chegava a dizer que já os Apóstolos perverteram o Evangelho de Cristo — o que é evidentemente absurdo, pois não conhecemos o Evangelho de Cristo senão através da pregação e dos escritos dos Apóstolos; Harnack, porém, era obrigado a proferir tal contrassenso, porque reconhecia claramente que a Igreja Católica atual corresponde fielmente à Igreja primitiva ou, como dizia ele, que «Cristianismo, Catolicismo e Romanismo constituem uma identidade histórica perfeita» (Theologische Literaturzeitung, 16 jan. 1909).

9 replies »

  1. Muito bom o artigo.
    Gostaria só de salientar que a doutrina da predestinação é aceita pela Igreja.
    Ver artigo de d. Estêvão Bettencourt sobre o tema.
    Paz

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    • Obrigada, Pierre. Cautela, porém , com certas definições. O que a Igreja entende por predestinação não necessariamente é compatível com a interpretação protestante.

      Pax Domini
      Hellen

      PS- Vide o Catecismo, isso sim, a fonte de autoridade católica.

      600. A Deus, todos os momentos do tempo estão presentes na sua actualidade. Por isso, Ele estabelece o seu desígnio eterno de «predestinação», incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça: «Na verdade, Herodes e Pôncio Pilatos uniram-se nesta cidade, com as nações pagãs e os povos de Israel, contra o vosso santo Servo Jesus, a quem ungistes (441). Cumpriram assim tudo o que o vosso poder e os vossos desígnios tinham de antemão decidido que se realizasse» (Act 4, 27-28). Deus permitiu os actos resultantes da sua cegueira (442), como fim de levar a cabo o seu plano de salvação (443).

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  2. Não quero aqui defender a doutrina luterana, nem dos reformadores, mas é necessário levar em consideração o contexto histórico da justificação pela fé sem obras, segundo o ensino de Lutero. A triste realidade dos tempos do ex-padre agostiniano era o de uma igreja que vendia o perdão dos pecados, através das conhecidas “indulgências”, e de imposições de praticas religiosas rigorosíssimas como o enclausuramento e duras horas de oração exaustiva e repetitiva. Assim, muitos acreditavam que seriam salvos por meio de tais obras. As táticas eram extremamente abusivas, de maneira que quando Lutero leu nas Escrituras: “O justo viverá da fé”, ele passou a ensinar a justificação pela fé sem as obras, mas não qualquer obra como a caridade ou fazer o bem ao próximo, mas sim, contras as obras estabelecidas pela igreja como meios de salvação, principalmente aquelas que lhe trazia excelentes resultados financeiros. Essa mesma realidade presente nos dias de Lutero, pode ser observada hoje também em certas igrejas que se autodenominam evangélicas, pois muitas deixaram de lado os princípios da Palavra de Deus regredindo aos tempos medievais, como a igreja do bispo Macedo, dentre outras, que usam táticas semelhantes às da igreja romana do passado, vendendo bênçãos, ambicionando o poder e a ganância, e explorando a fé dos seus fiéis de todas as formas. Infelizmente há muitos “papas” por aí nas igrejas evangélicas, que dominam o povo e exploram as ovelhas roubando-lhes a lã, o leite e a carne, mas quando as ovelhas precisam tratar as feridas da alma e serem limpas dos carrapichos causados pelo pecado, eles caem fora. São verdadeiros lobos exploradores da fé. Eu posso falar porque fui membro de muitas delas, inclusive na Universal do Reino de Deus eu fui obreiro, mas os meus primeiros passos na fé cristã foram no catolicismo romano. Por isto, acredito que tanto católicos quanto evangélicos, e até mesmo os espíritas sinceros, precisam se voltar para o cristianismo bíblico, ao invés de se enveredarem por dogmas religiosos estabelecidos pelos papas dominadores e exploradores da fé, em diversas igrejas (romana e evangélica). No texto acima é criticado o testemunho da Palavra de Deus como única regra de fé e prática para os cristãos, mas somente nas Escrituras podemos conhecer a verdadeira doutrina de Cristo e dos apóstolos. Particularmente eu não conheço nenhuma outra fonte de fé cristã mais confiável do que a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, mas se alguém conhece, por favor, me apresente. Porém, o argumento de que a igreja é a autoridade suprema em questões de fé, não é válida, pois tal argumento não passa de uma maneira dos dominadores prenderem os fiéis nas teias dos dogmas e dos falsos ensinos, pois Deus não se contradiz nunca, e jamais ele usaria os profetas e os apóstolos para ensinarem de uma maneira, e a igreja para ensinar de outra. É a doutrina da igreja que precisa estar de acordo com as Escrituras e não as Escrituras de acordo com o ensino da igreja. O livre exame da Bíblia tem as suas falhas? Sem dúvida alguma que sim, mas pelo menos, ninguém é obrigado a viver uma fé cega, sem saber se o que está crendo é a verdade e sem ter a certeza de que se está no caminho certo. Entre o dogma da infalibilidade da igreja e o livre exame das Escrituras Sagradas, é preferível a segunda opção, pois pelo menos assim, qualquer um pode ter convicção das verdades eternas, uma vez que a história tem provado os mais diversos erros cometidos pela igreja no decorrer dos séculos, muitos destes, até mesmo afastando os fiéis da salvação e de Cristo. Que garantia há quando se apresenta outros supostos mediadores além de Cristo, e outros meios de salvação, sendo que ele é o único Caminho? Se Jesus é o Senhor e o Salvador, não temos que recorrer a mais ninguém, a não ser unicamente a ele mesmo, que é a Fonte de todas as bênçãos. A Bíblia ensina que há um só Mediador, mas muitos querem constituir mediadores ao Mediador. Isto é para as pessoas incrédulas, mas aos crentes é dado o livre acesso direto na Fonte. Jesus mesmo disse que onde dois ou três estivessem reunidos em seu nome, ele se faria presente, independente de padres ou de pastores, ou seja lá de quem for. Muitos querem limitar a Igreja de Cristo, à esta ou àquela instituição religiosa, mas a verdadeira Igreja do Senhor Jesus, é transcendental e não pode ser limitada a uma instituição, cujo chefe é este ou aquele líder religioso. Portanto, a verdadeira Igreja Católica é constituída de todos os crentes verdadeiros, independente de instituições, denominações e lideres religiosos, e cujo chefe supremo é o próprio Cristo e não papas, nem bispos ou pastores.

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  3. Muitos nao conseguem enxergar que o diabo tem grande poder para enganar todo aquele que se afasta dos ensinamentos de Deus.
    E depois admiram-se e arranjam falsas desculpas por receberem grandes castigos.

    Os cegos nao enxergam que todo o sistema do mundo quer seja ele politico ou religioso,estao todos juntos no mesmo barco.
    Esses embora mentindo sem o saber,porque o diabo os domina,nao enxergam que embora acham que tenham opinioes diferentes,de fato estao todos no mesmo barco.Ou sejam todos estao servindo a confusao.Todas as religioes sao falsas!

    A verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo nao tem denominacao,embora para muitos isso seja dificil de perceber.
    Nao temos onde pousar a cabeca.
    Temos apenas um mediador Jesus Cristo nosso Deus.Apenas a Ele oramos e apenas Ele pode interceder pelos homens.
    Nao precisamos de grandes bibliotecas!Temos a Biblia e chega-nos.

    E quando praticamos boas obras,ficamos no anonimato e nada queremos em troca.Porque nao precisamos das obras para nos salvarmos,mas as praticamos porque recebemos amor de Deus.”Toda a boa dadiva vem do alto”como nos diz Tiago em sua carta.

    Vcs fiam-se em 2000 anos de existencia…
    Mas um dia ireis desaparecer por completo em grande destruicao.E nesse dia muitos irao ver que de fato tambem vcs nao sao a Igreja de Jesus Cristo.
    Um proverbio popular nos ensina:”Quanto mais alto,maior o tombo”

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    • Pergunta-se as boas obras são necessárias ou não para nossa salvação: se sim, então devemos praticar, se não, então devemos deixa-las de lado, porque não há lógica para praticar boas obras quando somente a fé é que é necessário para nossa Salvação.

      JESUS é nosso Único Mediador de nossa Salvação porém, intercessores todos nós somos quando oramos a DEUS por nosso irmãos em nome de JESUS, tal como nós aqui na terra são nossos irmãos os Anjos e os Santo e Maria nossa Mãe que oram a JESUS ou a DEUS PAI em nome de JESUS por nós dentro da Comunhão dos Santos.

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      • Sinei,

        Leia o artigo postado aqui e aqui sobre boas obras

        De fato elas não nos salvam, mas tem um papel importantíssimo na santificação do Cristão.

        Leia aqui a Doutrina da Salvação Católica.

        De fato somos salvos pela Fé, por meio da Graça!!

        Leia aqui Sobre a Mediação de Cristo.

        De fato ele é o único Mediador da Salvação, contudo, isso não impede que a Intercessão à Cristo, por meio dos Seus santos – viventes em carne ou em Espirito – seja também eficaz!

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  4. Os protestantes, pelo menos os evangélicos de hoje, não acreditam mais em salvação pela fé. Eles querem se salvar pelas obras, vide seu moralismo exagerado. Eles já foram para esse polo faz tempo. A não ser que você não esteja considerando-os como tendo relação com o protestantismo histórico.

    ps. Eu gostei de saber que a doutrina da Igreja Católica prega a salvação pela graça.

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  5. Caros Amigos

    Sabe-se que este ms de setembro denominado o Ms da Bblia, devendo os cristos lerem a cada dia um Salmo e aps a leitura dedicar-se alguns minutos reflexo do tema lido. No entanto, estamos constatando que os adeptos da Igreja Militante ao invs de demonstrar incentivos para este evento religioso, e expor o benefcio que estas leituras reflexivas podero trazer para todos, se dedicam a tecer comentrios acerca do protestantismo de Lutero e as variadas seitas recm criadas, denominada neo evangelismos. Grande parte da populao tem conhecimento de quanto estas seitas vm enganando e induzindo seus adeptos, gritando aos quatro ventos o nome de DEUS, de JESUS e do ESPRITO SANTO para adquirir um enriquecimento fcil. Porm importante que observe-se que a verdadeira f deve ser alicerada com boas obras, pois estas trazem para quem as executa o sentimento do verdadeiro amor, do AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRXIMO COMO A SI MESMO. Dessa forma, o melhor que se tem a fazer orar por todos, independente do credo que sigam, pois DEUS UNO, ELE est sempre com todos aqueles que procuram agir com F e AMOR. Abraos ternos de Dora Rodrigues.

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