Apologética Católica

Estudo Bíblico – Provação no deserto; cont. lição 4


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Moisés bate na rocha

São Paulo também disse que devemos ler a história da provação de Israel no deserto como “Escrita para educar aqueles que viriam nos últimos tempos, isto é, para nós” (1 Cor 10,11). Apesar de todos os sinais e maravilhas realizadas por Deus, a história da peregrinação da Israel ao monte Sinai depois do Êxodo é uma história de obstinação e cegueira, da incapacidade do povo confiar que Deus estava com eles, e que o Deus que os libertou também cuidaria deles no caminho.

Muito logo, murmuravam em Mara que a água era muito amarga, e Deus respondeu-lhes dando a Moisés o poder para adoçá-la (Ex 15, 22-25). Um mês depois, eles resmungavam sobre a comida no deserto de Sin. Deus lhes deu o maná do céu, fornecendo o pão de cada dia durante 40 anos (Ex 16). Esse é o maná que Jesus disse que era símbolo da Eucaristia (cf. Jo. 6, 30-59).

Mas isso não foi prova suficiente para eles. Eles estavam com sede em Meribá e Massah e colocaram Deus à prova: “O Senhor está ou não conosco? (Ex 17, 2, 7). Moisés bateu na rocha, como Deus lhe instruiu, e as águas jorraram para o povo. Quarenta anos depois, no livro de Deuteronômio, Moisés explicou aos israelitas que Deus havia feito tudo isso “para testar-vos e saber o que estava no vosso coração, se iríeis ou não guardar seus mandamentos … Percebeis que o Senhor, vosso Deus, os haveis corrigido da mesma forma que um pai corrige a um filho “(Dt 8, 2-5).

Por que Deus provaria a Israel, se Ele sabe tudo sempre? A resposta está no que Moisés disse por último, que os testes são uma forma de disciplina paterna pela qual Ele fortalece seu filho.

Deus não provaria a Israel para saber algo que não lhe era conhecido antes. Testa-los para torná-los mais fortes, para ensinar ao povo o que eles não sabem: o quanto eles precisam de Deus, como, sem ele, não seriam nada.

Deus os testou, disse Moisés, para que eles não se equivocassem e pensassem que sua liberdade e sua prosperidade eram devidas apenas aos seus próprios esforços. “Não lhes ocorra pensar: “Toda essa riqueza adquirimos através de nossos próprios esforços.” Deveis lembrar-vos do Senhor vosso Deus, pois é ele que vos deu a força para adquiri-la, cumprindo assim a aliança que tinha feito anteriormente com os seus antepassados “(Dt 8, 17-18).

Um reino de sacerdotes e uma nação santa

No Sinai, Deus revela a sua intenção plena para com seu povo escolhido, porque os levou sobre   asas de águias e trouxe-os para estarem com Ele (cf. Ex. 19, 4). Deus quer que seu filho primogênito, seu próprio povo, seja um reino de sacerdotes, uma nação santa (Ex 19, 6).

Na aliança do Sinai, chegamos a um ponto-chave na história da salvação. Lembre-se do que vimos: Quando Deus faz uma aliança, está formando uma família. Está emparentando-se conosco, criando filhos adotivos.

Tenha em mente, também, que as imagens do Antigo Testamento nascem na forma da família dos tempos antigos. Na antiga família, os pais eram ambos “reis” (governantes, legisladores, protetores) de sua família e “sacerdotes”, que presidiam a família na adoração e sacrifício. O filho “primogênito” era quem herdava a autoridade e as funções reais e sacerdotais do pai.

Desde Adão, Deus estava à procura de um “filho primogênito” digno do Seu chamado para salvar e proteger a criação, oferecer sacrifícios de louvor e ação de graças, ser luz para todos os povos, e habitar com Ele intimamente.

Adão foi o pai fundador, feito senhor da criação e investido com as funções sacerdotais de guardar e cultivar a criação de Deus (Gn 1,26; 2,15). Noé também foi um pai, e seus descendentes “primogênitos”, com quem Deus reprovou a terra depois do dilúvio. Deus em seguida, escolheu Abrão, cujo nome significa “pai poderoso” e transformou-o em Abraão, nome que significa “pai de uma multidão”.

Nesta história vemos que Deus é forçado a ignorar aos primogênitos em muitos casos por ser demasiado orgulhoso, injusto e violento. Vimos isso no caso de Caim, Ismael e Esaú, para citar apenas três exemplos. De fato, entre todos os “primogênitos” em Gênesis, apenas a descendência de Sem foi fiel.

Mas Deus manteve-se fiel ao seu plano e sua promessa. Com Israel, seu primogênito, está começando de novo. Eles serão sua família, seus herdeiros reais. Por isso Moisés instruiu que o primogênito de Israel fosse consagrado a Deus e dedicado ao seu serviço sacerdotal (cf. Ex 13, 2, 15; 24,5). Aqui no Sinai, Deus revela que Ele quer que Israel seja na família das nações aquilo que era o primogênito no sistema antigo da família: sacerdote e rei.

Deus está fazendo de sua família uma nação, mas uma nação única. Israel é uma “nação consagrada”, apartada das outras nações, um exemplo de santidade e justiça, um instrumento pelo qual Deus estende Sua salvação a todas as nações.

O Bezerro de Ouro

Ao não reafirmar sua aliança com Deus, o povo caiu em idolatria. Moisés vai até a montanha para receber instruções detalhadas sobre a construção e decoração da arca, onde habitava Deus (Cf. Ex. 25-31), e, entretanto, o povo faz um bezerro de ouro e começa a adorá-lo. Os rabinos antigos diziam que o bezerro de ouro foi para Israel o que fruto proibido foi Adão. Foi uma segunda perda da graça. O bezerro é uma imagem de Apis, o deus egípcio da fertilidade, e o culto que Israel dá a ele é uma paródia da aliança do Sinai.

Como Moisés o fez, construíram um altar, madrugaram para oferecer sacrifícios, comeram e beberam em uma refeição ritual. Além disso, a Escritura diz: “levantariam-se para se divertir”, um eufemismo para dizer que participaram de orgias, como aqueles associadas com o culto de Apis (Ex 32: 1-6).

Deus deserdaria Israel. Deve notar-se como isso se expressa. Ele não fala mais dos israelitas como seu povo especial (cf. Ex 3,10; 5, 1; 6,7). Ele diz a Moisés que os israelitas são “teu povo, o qual tú tiraste da terra do Egito (Ex 32, 7). Moisés intercede pelo povo, a ponto de oferecer ser apagado do livro da vida por eles (Ex 32, 31- 32). Embora merecessem morrer por violar a aliança, de fato os levitas matam 3.000 deles, o povo é perdoado por Deus.

Mas a situação de Israel não era a mesma. Ele nunca mais falou de Israel no Antigo Testamento como “reino de sacerdotes e uma nação santa.” O plano de Deus para um reino de sacerdotes teve que esperar até a fundação da igreja (1 Pe 2, 5-9; Rev. 1, 6).

Os quatro primeiros capítulos de Números nos narra o que aconteceu imediatamente após o evento bezerro de ouro. Moisés faz um censo detalhado (por isso o nome do livro) e estabelece a autoridade dos levitas.

Os levitas, a única tribo que não adorou o bezerro de ouro e os únicos que responderam ao chamado Moisés (Ex 32, 26), são “consagrados” ou ordenados como sacerdotes da nação (Ex 32, 26-29). Já os primogênitos não herdariam o papel sacerdotal do pai de família. Os levitas são escolhidos ao invés dos primogênitos (Nm 3, 11-13,45).

Pela primeira vez, seria feita uma distinção entre sacerdotes e leigos. Antes, cada primogênito era um sacerdote (cf. Ex 13, 2, 15; 24, 5). Depois, qualquer um que não é Levita e pretende exercer funções Sacerdotal morre: “Aquele que se aproxima morrerá.” (Nm 3,10).

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